Sinônimo
de estilo, originalidade e responsabilidade, a ecofashion conquista cada vez mais espaço na indústria da moda. O
conceito da moda sustentável consiste na confecção de roupas com
matérias-primas ecologicamente corretas, que não geram impacto no meio
ambiente, respeitam as leis trabalhistas e promovam a cooperação entre produtor
e a comunidade local. Essa tendência eco-friendly
já ganhou adeptos por todo mundo e é vista nas mais famosas passarelas das
semanas de moda, em coleções de Stella McCartney e Vivienne Westwood.
Coleção Pre-Spring/Summer da estilista Stella McCartney
Mais
do que apenas dizer o que vestir ou não vestir, a moda reflete na forma como
consumimos e nos expressamos. Como qualquer outra indústria, ela é dependente
de inúmeras estratégias de mercado. Muitas marcas importantes poluem, desmatam
e utilizam produtos tóxicos. Segundo dados do Greenpeace, a indústria têxtil é uma das principais fontes de
poluição da água de países como México e China. Diversas florestas são
transformadas em matéria-prima e grandes áreas da Amazônia são desmatadas ilegalmente
para dar lugar a criações de gado usado para a produção de couro.
Para
promover a transparência aos consumidores, o Greenpeace criou, em 2013, o ranking Duelo da Moda. O projeto tem
como objetivo propor uma disputa entre as marcas e, assim, avaliar a produção
mais sustentável. Ao todo, 15 marcas
participaram da análise. A pesquisa tem por base três quesitos: couro, celulose
e poluição tóxica da água. Quem se qualifica positivamente no ranking é a grife
Valentino, que já se comprometeu a acabar com os lançamentos de produtos
tóxicos e adotar uma política sem desmatamento. Marcas renomadas como Prada,
Chanel, Dolce & Gabbana e Hermès aparecem em último lugar, sem nenhuma
prática sustentável. Segundo Lilyan Berlim, autora do livro Moda e Sustentabilidade,
iniciativas como estas devem continuar pressionando a indústria fashion a explorar métodos
ecologicamente corretos. “Tão importante quanto o consumo consciente, a
produção consciente deve ser cada vez mais incentivada. A participação de
grandes estilistas na causa sustentável abre caminho para o conhecimento e a
divulgação desse tipo de moda”, conta.
Uma
das pioneiras da ecofashion, a designer inglesa Stella McCartney apoia
a corrente eco-friendly desde 2001.
Favorita entre atrizes como Anne Hathaway, Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow,
Stella cria coleções sem o uso de couro e de pele de animais, apenas com
tecidos orgânicos tingidos com corantes naturais. Além disso, suas lojas
são abastecidas por energia eólica e utilizam sacolas de papel reciclado ou
milho biodegradável. Em 2010, a estilista assinou uma parceria com a marca
esportiva Adidas. Todas as roupas são feitas de tecidos de PET reciclado e
algodão orgânico. Ela também possui uma linha de lingerie feita somente com fibra
natural.
Quem
também segue o exemplo sustentável é a marca de jeans Levi’s. Com a coleção Water
Less, a grife reduziu, em média, 28% do consumo de água na fabricação do jeans tradicional. Em outras peças, a
economia chega a 96%. Em parceria com a ONG Better
Cotton Initiative, a marca busca promover, na fase de tratamento do
algodão, a redução do uso de pesticidas e a preservação da biodiversidade. O
novo projeto da Levi’s é o Wellthread
Levis, uma coleção totalmente sustentável, com tecidos recicláveis e que
consomem menos energia e água.
A coleção Verão 2015 da marca Osklen, apresentada no último Fashion Rio
No
Brasil, a ecofashion é um mercado em
ascensão. “O divisor de águas para a moda brasileira aconteceu em 2007, quando
a Osklen inovou nas passarelas do São Paulo Fashion Week com uma coleção feita
com algodão orgânico, látex natural e malha de PET reciclada”,
diz Lilyan. A partir de então, o designer
da marca, Oscar Metsavaht, aderiu completamente à sustentabilidade. Ele já
utiliza mais de 20 tipos de materiais recicláveis, orgânicos e artesanais na
elaboração das peças. A Osklen também trabalha com produtos de comunidades e
cooperativas, colaborando no desenvolvimento social e econômico dos grupos
participantes.
Mesmo
com um considerável crescimento, ainda falta incentivo para a consolidação da
moda sustentável no Brasil. A produção de algodão orgânico não é suficiente
para abastecer todo o mercado brasileiro. “Como a produção da matéria-prima é
feita sem agrotóxicos, não há garantia de colheita. Por isso, é muito difícil
para um produtor conseguir um empréstimo no banco. E, quando conseguem, o preço
é bem mais alto”, explica a autora. Outro fator que encarece o processo é a
adequação às leis trabalhistas, que garantem salários dignos para os
trabalhadores envolvidos. Para Lilyan Berlim, é preciso rever as relações
custo-benefício da indústria fashion.
Apesar de ser 70% mais cara, a convecção de roupas sustentáveis traz inúmeros
benefícios para o meio-ambiente. Há um novo mercado interessado na moda
brasileira e é fundamental investir em áreas mais verdes para garantir
a preservação e valorização da biodiversidade.